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“A MÚSICA PORTUGUESA COMO NUNCA HOUVERA OUVISTO”
(Publicado originalmente no jornal Via Rápida em Junho 2015. Texto de Carlos Vieira e Castro).
(…) Azul Espiga, é o nome do deste projeto musical que se propôs abordar algumas das melodias mais belas e aparentemente simples da música popular e tradicional portuguesa utilizando uma linguagem musical sofisticada do ponto de vista harmónico, rítmico e tímbrico, como é o jazz. Sem ponta de pretensiosismo. O jazz não serve de verniz em madeira velha para nos impressionar com o brilho. Deixa-se espreitar no acetinado das modulações tímbricas, próprias da semântica jazzística. As canções fluem naturalmente, emocionam-nos pela sensibilidade dos arranjos que realçam de forma inovadora a beleza das melodias, pela mestria do Alberto Rodrigues no piano, donde extrai um notável vigor percussionista (fabuloso em “Vira do Minho” e “A minha Saia Velhinha”), e do Ricardo Augusto no acordeão, que surpreendeu, pela voz límpida e segura de barítono e pela inspirada interpretação. Nada parece estar a mais, nem a menos. Um piano de cauda, um acordeão e duas vozes enchem-nos os ouvidos e a alma. O palco parece pequeno, também graças ao excelente trabalho videográfico da Ana Seia de Matos e do Luís Belo, e ao do Rui Mota Pinto no tema “Ó que lindo par eu levo”.
Fica provado que não é preciso muita parafernália instrumental para fazer bons arranjos musicais. Tal como na gastronomia, em que o excesso de condimentos e temperos só serve, por vezes, para tentar disfarçar a má culinária, também na música, genial é fazer-nos vibrar com a arte de tornar simples o que é estruturalmente complexo. Outros já tinham interpretado a música tradicional portuguesa através da linguagem do jazz, como Maria João (“S. João”, “Mãe, dou-lho ou não?”) ou com linguagem dita “erudita”, como Lopes Graça ou Eurico Carrapatoso, mas há em Azul Espiga uma invulgar originalidade. (…)