Tenho quase a certeza que uma das coisas que a maior parte de nós acharia mais abjectas quando criança, ou já adolescente, seria a de querer possuir ou manipular algo e ouvir a frase despótica do costume “Dou-te isso no Natal, se te portares bem!” ou “No fim do ano se tiveres boas notas”. Embora o exercício de disciplina possa ser válido e o tempo filtre as emoções, é duro o choque do adiar o desejo. Demasiado tempo depois, passada a prova, a recompensa merecida sabe como o segundo da culinária espanhola. É neste éter emocional que sentimos a Girazine.
Durante alguns anos a ideia recorrente, mas nunca colocada em prática, é agora lançada à terra na forma desta humilde semente, gerada pela feliz coincidência de uma proposta de estágio profissional à Gira Sol Azul de alguém da área jornalística que acolheu o desafio com garra e dedicação incansável. Deixamos aqui pois um agradecimento muito especial ao Rafael Ferreira que recolheu, organizou e criou algum do material aqui presente, todo o trabalho de fundo é seu. Agradecemos também a preciosa colaboração do Luís Belo que deu corpo a esta zine.
A Girazine não é uma publicação acerca das actividades da nossa associação, mas sim uma janela aberta para a arte, em tom informal. No entanto, fazemos questão de abrir este número zero com o retrato que a Ana Filipa Rodrigues compôs para que aqueles que ainda nos desconhecem compreendam o contexto e origem desta zine. Pretende-se que seja um ponto de encontro das artes com especial atenção ao que está próximo e merece visibilidade. Serviço público com Fotografia, Artigos, Eventos, Dança, Música, Artes Plásticas, Som e Imagem, Prosas e Poesias, Partilhas e Pessoas.
Bruno Pinto, no Editorial da Girazine nº0